domingo, 1 de setembro de 2013

Quando pensamos num astronauta vem sempre a ideia do homem vestido de branco num fato inchado aos saltinhos na lua ou à deriva preso a uma espécie de cordão umbilical (pelo menos a mim).


O design de um fato espacial para astronautas tem bastantes particularidades interessantes. Se quiserem um pouco de conhecimento sobre o tema, leiam esteartigo.

Temperatura: Um astronauta tem de ser capaz de resistir a diferenças de temperatura bastante elevadas. Nós aqui na Terra, graças à atmosfera temos o conforto de passar da sombra para um local iluminado com a diferença de apenas alguns graus, no espaço, pode-se passar de centenas de graus negativos para centenas de positivos. Por isso, uma das primeiras camadas de um fato especial é um fato térmico, preenchido com um líquido termoestático que mantém a temperatura constante. A temperatura é também a razão pela qual quase todo o equipamento espacial é branco: para reflectir a luz e evitar o calor sentido provocado pela radiação solar.

Portanto, se os astronautas forem para Marte, em que essas diferenças abismais de temperatura não são tão grandes, os fatos poderão ter outras cores. Talvez o critério de escolha seja o contraste com o planeta vermelho.
Um dos primeiros modelos de fato, os Mercury, eram cobertos de aluminio, para reflectir a radiação, só que não era de todo eficaz. A conservadora actual defende que esta cobertura tinha um efeito mais mediático do que prático, para os astronautas parecerem mais futuristas.




Fluidos corporais e conforto: Imagina que te queres coçar e entre ti e o foco de comichão estão varias camadas de material grosso. Agora imagina que para além da comichão estás a suar da testa e as gotas escorrem para os olhos. Ao mesmo tempo tens uma grande fralda super-absorvente para recolher as necessidades fisiológicas evacuativas e que já está molhada. Para juntar a isto tudo, o teu sistema de hidratação (uma mochila cheia de água com uma palhinha como os ciclistas) mais uma vez está a deixar escapar umas gotinhas que ficam a flutuar mesmo debaixo do nariz. É este o desconforto que um astronauta tem de aguentar nas longas missões em que não pode tirar o fato espacial.



Ar: O ar que se respira, tem de ter a proporção correcta de oxigénio e azoto (mas ao mesmo tempo tem de se diminuir ao máximo o peso que se leva numa nave, pelo que tem-se sempre a tendencia de meter um pouco mais de oxigénio), que tem de ser recirculado ao contrário dos nadadores que libertam para dentro de água. E com a recirculação vem o problema da humidade. Há que desumidificar o ar, para que não pareça  que está a chover dentro do fato.
Pressão atmosférica: Os fatos têm de ter uma pressão atmosférica o mais parecida possível com a Terra, por motivos de conforto. No entanto, se fossem insuflados com uma pressão de 1 atm iriam parecer uns balões e os astronautas não se conseguiriam mexer. Retirar azoto da mistura de ar diminui a pressão, mas aumenta a quantidade de oxigénio (perigo de ocorrer um incêndio dentro do fato) e aumenta os casos de má descompressão, como acontecia nos escafrandos antigamente.

Duro ou mole? 
Os fatos usados hoje em dia são feitos de tecido, mas nem sempre foi essa a tendência. Os fatos duros são mais baratos, mais infalíveis e simples, para além de terem menos problemas com a pressão atmosférica lá dentro. Então porque se usam fatos de tecido. Uma das razões é o factor psicológico. Astronautas vestidos com fatos rígidos parecem robots e com fatos moles, mais humanos. Outra razão apontada foi que na gravidade terrestre, os fatos rígidos seriam mais pesados e desconfortáveis, pelo que os moles se saíam sempre melhor nos testes preliminares. Para além disso, no início da era espacial, os fatos rígidos seriam mais pesados que os fatos Mercury (os metalizados lá em cima) e isso salvaria combustível na descolagem. Outro facto tem ainda haver com as articulações que seriam menos intuitivas. Por exemplo, num fato mole, para tocar nas costas é só fazer o movimento normal, num fato rígido teria primeiro de se mover o braço para baixo e só depois para trás.



A nova vaga de fatos espaciais aposta bastante na flexibilidade e leveza, já tendo em vista a exploração de Marte. Os novos designs abandonam a ideia de encher o fato de ar para alcançar a pressão desejada e, em vez disso, fazem o fato aplicar a pressão directamente no corpo, como as meias de descanso. Quem diria que o futuro da exploração espacial iria aplicar um conceito tão querido das velhotas com varizes?

Estes fatos serão também mais fáceis de vestir e resistentes à abrasão e fáceis de reparar em caso de choque com micrometeoros.




Outros inventores apostam num regresso às origens, numa versão melhorada dos fatos moles insuflados. Após ganhar um prémio da NASA para um melhorado design das luvas de astronauta, um engenheiro de fatos espaciais e um costureiro de disfarces decidiram criar uma empresa que se compromete a idealizar a nova geração de fatos, inspirada em algumas das soluções que encontraram quando fizeram as luvas premiadas.


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