quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Master Piece

O canal televisivo italiano Rai 3 vai estrear um programa de nome Masterpiece. Em vez de cozinheiros, dançarinos, cantores, os concorrentes serão escritores.



O júri terá de escolher os melhores para lutar por uma publicação de um livro na Simon & Schuster. Tudo será feito com muito drama, como se espera, e até vai haver direito a "confessionário" como no Big Brother onde os escritores porão a nu as suas frustrações.

O conceito envolverá 4 escritores, defronte a um júri de 3,  a escrever em tempo real, com um cronómetro opressivo, as palavras a serem projectadas num ecrã gigante e um enxame de câmaras a capturar close-ups das caras concentradas dos concorrentes.

Haverá também leituras de textos, pitch do romance a convidades famosos, experiências relacionadas com o escrito (se é sobre casamentos, o concorrente vai a um casamento), etc...

Em menos de um mês 5000 candidatos já se voluntariaram para serem avaliados.

Os produtores do programa defendem-se das críticas ao formato dizendo que este aproximará a literatura das pessoas e que é uma óptima oportunidade de tentar uma nova estratégia de promoção de livros. O livro está a morrer, dizem, e é preciso fazer tudo para o salvar. Outros, como por exemplo o escritor Alessandro Baricco, dizem que "Masterpiece poderá dar às pessoas uma ideia de literatura. Mas não é a ideia que a maior parte das pessoas que a realmente faz partilha."

Este programa vai ao encontro de uma tendência em que o escritor, para além de escrever bem (ou até mais importante que escrever bem), tem de se vender, tem de criar uma cara que o público goste e gastar inúmeras horas de escrita em promoção. Para além do que, tenho sérias dúvidas que os concorrentes seleccionados sejam os melhores escritores que irão concorrer, mas sim os melhores entreténs. 



Ainda para mais, é uma subversão do mercado considerar-se como um prémio "ser publicado". O dia-a-dia de uma editora deveria ser detectar bons escritores vendáveis e publicá-los. É o negócio deste tipo de empresas. Acaba por passar a mensagem errónea que só através destes canais é que se consegue chegar aos editores.

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